Há algo no ar quando
finaliza outubro. O vento sopra diferente, as folhas caem como presságios e,
nas noites frias, o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos parece se tornar
mais tênue. É o tempo do Halloween, a celebração que o Ocidente transformou em
festa infantil de fantasias e doces, mas que guarda por trás de suas máscaras
uma das histórias mais antigas e enigmáticas da humanidade.
Antes de ser “Halloween”, esta data era conhecida como
Samhain, um antigo festival celta
celebrado há mais de dois mil anos nas frias terras da Irlanda, Escócia e parte
do norte da França. Era o fim do verão e o início do tempo das trevas: o
inverno. Para os antigos druidas, o Samhain
marcava o ponto em que o Sol morria para renascer meses depois. Nesse
intervalo, acreditava-se que as almas dos mortos vagavam pelo mundo dos vivos,
e que criaturas do submundo atravessavam portais invisíveis para visitar
aldeias humanas.
Os druidas acendiam
grandes fogueiras nos topos das colinas, realizavam rituais de proteção e
deixavam oferendas de comida para aplacar os espíritos errantes. As pessoas
usavam máscaras de animais e se cobriam com peles, acreditando que poderiam se
misturar aos fantasmas para evitar serem reconhecidas. O mundo natural parecia
entrar em colapso, e a fronteira entre o que é visto e o que é invisível
desaparecia por uma única noite.
Com o avanço do
Cristianismo, o Samhain foi absorvido
e transformado. A Igreja, tentando apagar as raízes pagãs, instituiu o Dia de
Todos os Santos em 1º de novembro e o Dia de Finados em 2 de novembro. Assim, o
antigo festival celta passou a ser chamado de “All Hallows’ Eve”, a véspera de Todos os Santos, até se tornar o
que conhecemos como Halloween.
Porém, as tradições nunca
desapareceram completamente. Elas apenas se esconderam sob novas máscaras.
Séculos depois, nos Estados Unidos, imigrantes irlandeses levaram seus costumes
para o Novo Mundo. A tradição das lanternas feitas de nabos, representando
almas perdidas, foi adaptada com as abóboras locais, mais fáceis de esculpir. A
partir do século XIX, o Halloween se
transformou em uma celebração popular, mas o seu simbolismo profundo continuou
pairando nas sombras.
Mas o que poucos se
perguntam é: por que uma celebração ancestral de morte e espíritos é tão
amplamente incentivada por corporações, mídia e plataformas globais hoje?
Por que o Halloween, e não tantas
outras festas tradicionais, se tornou um evento de proporções planetárias?
Alguns estudiosos do
ocultismo acreditam que o Halloween
moderno representa mais do que apenas nostalgia celta. É um rito simbólico de
aceitação do medo, uma forma sutil de
normalizar o contato com o obscuro, com o profano e com aquilo que a humanidade
tentou esquecer. Enquanto as crianças pedem doces vestidas de demônios e
bruxas, antigas energias são evocadas, ainda que inconscientemente.
Outros vão mais longe e
afirmam que as grandes corporações e elites globais perceberam o potencial
psíquico dessa data. O medo coletivo, dizem, é uma das formas mais poderosas de
manipulação emocional. Quando multidões celebram o horror como entretenimento,
o inconsciente coletivo é estimulado em vibrações de medo e submissão. Uma
humanidade assustada é mais fácil de controlar. O terror, afinal, é um
instrumento de poder.
No plano simbólico, o Halloween também marca o renascimento do
oculto na cultura de massa. Filmes, séries, jogos e produtos associados ao
sobrenatural se multiplicam. Bruxas, vampiros e rituais retornam, revestidos de
glamour. O que era tabu se tornou tendência. Mas o que parece apenas diversão
pode ser uma reintrodução gradual de antigos símbolos mágicos, agora
disfarçados de cultura pop.
Em muitas tradições, o Samhain era o momento em que os deuses
antigos exigiam lembrança. E se o ressurgimento do Halloween for, de alguma forma, a resposta a um chamado? E se o
inconsciente coletivo da humanidade estiver sendo conduzido, lentamente, a
reviver forças que adormeceram há milênios?
Os estudiosos das
ciências ocultas apontam que o Halloween
se alinha energeticamente com um ponto astrológico específico: quando o Sol se
encontra em Escorpião, signo associado à morte, regeneração e mistério. Para eles,
esse é o verdadeiro portal, um tempo em que os véus se abrem não apenas entre
os mundos, mas também dentro de nós. Por isso, antigas ordens esotéricas
acreditavam que, nesse período, ritos secretos eram realizados para fortalecer
alianças entre o visível e o invisível.
Hoje, a celebração
continua, mas em outra escala. O Halloween
se tornou uma indústria bilionária. Máscaras, fantasias, filmes, festas,
produtos. Tudo cuidadosamente embalado para parecer inofensivo. Entretanto,
para aqueles que observam atentamente, há uma mensagem escondida sob cada
abóbora sorridente: a de que o medo vende, e o medo conecta.
Na superfície, o Halloween é apenas uma festa. Mas sob a
superfície, é um espelho. Ele reflete o que a humanidade teme e, ao mesmo
tempo, o que mais deseja entender: o mistério da morte e daquilo que vem
depois.
No fundo, talvez a
celebração nunca tenha sido sobre o terror, mas sobre a lembrança. Lembrar que
somos mortais. Que a vida é breve. Que o fogo que acendemos para afastar as
trevas também ilumina o que escondemos dentro de nós.
Os antigos druidas sabiam
que toda sombra carrega sabedoria. E talvez o Halloween moderno, com toda sua confusão de símbolos e máscaras,
ainda conserve um eco dessa sabedoria ancestral.
Talvez a verdadeira magia
dessa noite seja nos lembrar de que a escuridão não é inimiga, é apenas o outro
lado da luz.
Mundo Não Real
